O vazamento de dados traz um desafio adicional à todas as empresas que se dedicam a conceder crédito. Não bastassem as avaliações convencionais para determinar as probabilidades de pagamento e inadimplência, precisamos nos munir de ferramentas e processos que nos garantam que estamos falando realmente com quem está se apresentando.
Quando temos o processo analógico, físico, cara-a-cara, temos a possibilidade de pegar um documento na mão, observar as marcas d’água e todos os outros dispositivos de segurança. Além disso, é possível notar as reações corporais, como as respostas são dadas.
Mas e no processo digital?
Recebemos uma foto de documento (muitas vezes em preto e branco), temos a pressão do tempo de retorno, expectativa para se ter uma decisão rápida. Aliado a isso ainda tem o conceito dos produtos digitais de baixo custo e, por isso, uma mesa de fraude com diversos analistas não é uma opção viável. Com isso, precisamos buscar ferramentas que nos ajudem na análise de documentos, na validação do proponente.
De posse de dados como nome, CPF, nome da mãe e tantas outras que foram vazadas recentemente, fica ainda mais fácil para os fraudadores tentarem burlar as regras e se passarem por proponentes.
E quais são essas ferramentas?
As principais ferramentas que temos que ter são:
· OCR: permite que os documentos sejam lidos de forma automática, verificando se algum dado foi alterado. As ferramentas mais assertivas conseguem identificar se houve alguma montagem do documento (alteração de foto, por exemplo)
· Biometria facial: compara o rosto de quem está se cadastrando com um banco de imagens ou o documento apresentado. Novamente temos ferramentas mais robustas que, ao pedir prova de vida (sorriso, olhar para cima, virar o rosto) conseguem identificar se é a reprodução de um vídeo ou se realmente é a pessoa ao vivo.
· Biometria comportamental: talvez uma das ferramentas mais recentes em relação às outras e que permite avaliar o comportamento do proponente no momento do preenchimento da proposta. Localização do cliente, qual equipamento ele está usando, tempo que demora em cada página do cadastro, tempo para preencher cada informação do cadastro. Enfim, faz uma varredura em tempo real do preenchimento da proposta.
Preciso ter todas?
O mais importante é ter as ferramentas que te deem a proteção necessária. Se, por exemplo, o processo não exige documentação e se baseia apenas em dados coletados de mercado (positivos, cadastrais, negativos) não é necessário ter um OCR.
Caso o processo seja mais complexo, o uso das ferramentas em conjunto é fundamental, pois elas se complementam e trazem uma maior assertividade no momento da decisão.
Recentemente organizei um bate papo sobre fraude e alguns insights bem interessantes surgiram. Esse é um ponto excelente de trabalhar com combate à fraude, a ajuda, troca de experiências é sempre bem-vinda. Somos todos alvos das mesmas quadrilhas. O foco da conversa era empréstimo PJ, a seguir alguns dos principais pontos da conversa
Dificuldades encontradas no processo:
- Identificar e garantir que quem está fazendo o processo é autorizado para tal (sócio ou representante legal)
- Documentação de PJ acaba sendo massiva e de difícil tratamento via OCR (balanços, contrato social)
- Particularidades dos diversos segmentos e mercados dificultam um processo único e automatizado
- Fraudes podem ser através de empresas fraudulentas ou pessoas que usam dados de empresas reais e se passam por sócios
Para enfrentas essas dificuldades algumas melhores práticas divididas foram:
- Obrigatoriedade de o 1º cadastro ser feito por sócio ou representante legal (comprovado por documento)
- Solicitar assinatura através do e-CNPJ
- Checar documentos e dados dos sócios
- Ficar atento à cadastros com e-mails genéricos (gmail, Hotmail), principalmente se a empresa tiver domínio próprio
- Verificar data de criação do domínio do email apresentado
No quesito fraude, uma coisa é inquestionável, estaremos sempre sujeitos a receber ataques e acabar tendo perdas por fraude, os fraudadores costumam estar alguns passos à frente. Com isso, é fundamental revisitar o processo com frequência e verificar a necessidade de ajustes operacionais e, consequentemente, a inclusão de novas ferramentas. Nenhum processo é ótimo para sempre, muitas vezes, por restrições financeiras é preciso escolher entre diferentes ferramentas disponíveis.
O acompanhamento contínuo, faz com que os ajustes ao longo do tempo sejam realizados de forma mais adequada na relação momento/necessidade da empresa.