Sempre achei interessante o conceito de “carteira” para denominar o volume de negócios de um determinado portfolio. Uma carteira de dinheiro “polpuda “tem dentro dela diversas notas de diversos valores.
Podemos imaginar que cada nota seja uma SAFRA do nosso negócio, e que todas juntas correspondem ao nosso patrimônio de elevada liquidez, no caso nossa “carteira”. Novas safras geram novas notas na carteira e, necessidades de compra que temos geram saídas na carteira, que no negócio financeiro é a baixa de um título (total ou parcela).
Uma dinâmica interessante de entrada e saída é que compõe nossa carteira de um produto financeiro. Mas como avaliar sua “saúde”?
A análise da saúde financeira de uma carteira de risco é relativamente simples e são estruturadas em uma visão “clássica” de distribuição dos saldos por faixa de atraso.

Pontos importantes neste processo a serem considerados:
a) O que é carteira em dia? Importante que seja feita uma análise do período de 0 a 8 dias de atraso a fim de identificar se a frequência de baixa está por exemplo, em D+3 do vencimento. Neste caso sugere-se que o “em dia” seja até 5 dias de atraso e a primeira faixa seja de 6-30 dias;
b) Para o produto em questão quando é feito o lançamento a perda? 180 ou 360 dias? A distribuição por faixa deve seguir, minimamente, até o lançamento a perda a fim de segmentar a carteira em “carteira normal” e “carteira em perda”;
c) Como se trata de uma visão gerencial e mensal deve ser avaliado o processo – ciclo do negócio – para definição do mesmo dia de corte (momento de tirar a fotografia da carteira) a fim de garantir uma visão comparável na linha do tempo;
d) E por fim, mas não menos importante a visão desta tabela é por CONTRATO, ou seja, engloba o SALDO EM ABERTO, e a alocação na faixa é dada pelo maior atraso do contrato.
Obs.: Esta foto deve ser feita em saldo financeiro e em quantidade de contratos.
(para produtos de empréstimo) e ao perfil de pagamento e baixa dos títulos.
Certa vez li que indicadores são uma forma de contar uma história… gostei desta definição.
Como esta tabela nos auxilia na gestão de risco? O que estes números me dizem sobre a saúde da carteira?
Muito pouco …
Esta é a estrutura básica de análise, todavia a análise efetiva se dá pelos indicadores oriundos desta tabela. As análises são feitas por diferentes prismas ou visões:
· Visão evolutiva dos indicadores – análise de efeitos sazonais do produto, análise de impactos decorrentes ao crescimento acelerado (por campanhas por exemplo) ou mesmo de redução significativa por ações de bloqueio (por exemplo: covid-19)
· Visão comparada com o mercado – entender os indicadores do BACEN ou de empresas similares no mesmo período de tempo a fim de avaliar se é um movimento decorrente das estratégias internas (de crescimento, de politica de risco ou de atuação na recuperação) ou um momento mercadológico
Além disto é importante construir a tabela / indicadores com as quebras relevantes para o negócio/produto, por exemplo:
· UF – uma segmentação regionalizada;
· Carteira de renegociação – como tem um perfil de comportamento muito pior que a carteira “original” é importante analisar de forma segmentada;
· Segmentos do portfolio – por exemplo: produto cartão de crédito, um BLACK é distinto de um produto CLASSIC. Como saber o que segmentar neste caso? regras de concessão ou de oferta de produto diferenciadas!
· Etc.
E os indicadores … quais construir?
· Carteira em dia e em atraso (com corte em 180dias) – este percentual demonstra a saúde global da carteira;
· Over – o que está acima de uma faixa de atraso. Os mais usuais são: Over 30, Over 60, Over 90, Over 180, Over 360. Este é um indicador padrão. No mercado e facilmente comparável com os números divulgados pelo Bacen.
· Rolagem – o indicador que apresenta a movimentação da carteira. Podemos pensar neste indicador como o velocímetro de um carro… vai te mostrando a sua mudança de velocidade na medida que você segue na viagem. O quanto rola de uma faixa para outra mede o quanto você está perdendo de carteira “saudável” … Se rola 50% da faixa de 60-90 para faixa de 90-120, significa que, ao invés de você estar recuperando este público ele está ficando mais atrasado, ou seja, menos saudável e, portanto, mais difícil de recuperação.
O que eles me dizem? o que devo mudar a partir da observação destes indicadores?
O que mais me estimula em gestão de Riscos é que na maioria das vezes a resposta não é obtida apenas com uma visão ou um número ou um indicador. Se fosse assim, rapidamente um “robot” faria este papel pois teria mais rapidez na comparação e estruturação de resultado que a mente humana.
Temos que usar cada vez mais os números para nos auxiliar na estruturação da análise, ou seja, ter séries históricas grandes e com segmentações precisas são fatores cruciais na análise destes indicadores.
Eles nos mostram a saúde da carteira… e se ela está ruim? se os indicadores estão piorando … onde está o problema?
· Novas safras que estão deteriorando o negócio? para avaliar isto teremos quer unir a estes números os relatórios e indicadores de safra …
· Patamar de inadimplência do mercado que mudou? para isto temos que melhorar a “network” e ter bons relacionamentos com executivos de empresas similares para trocar figurinhas…
· Piora nas ações de recuperação de crédito? para isto temos que avaliar os indicadores operacionais de recuperação e avaliar se temos problemas de contato (cadastro) ou de política e estratégia de cobrança …
· Incremento da fraude está comprometendo a carteira por dificuldade em segmentar / gerenciar os indicadores de fraude? para isto temos que avaliar o processo de gestão de fraude. Este é um ponto que observamos menor maturidade das empresas, não é raro encontrarmos empresas que dizem que tem ZERO ou quase ZERO de fraude. Se os executivos pararem para observar as notícias do jornal, verão que eles nem seus negócios são imunes a falhas, teriam mais atenção a esta frase de “auto perdão”.
Este é um “bate-papo” que segue longe. Finalizo destacando a importância da criação de painéis executivos que demonstrem facilmente a movimentação dos principais indicadores:
· Do mês anterior para este mês;
· Do mesmo mês do ano anterior com este mês;
· Do mês atual em relação mês orçamentário.
Na próxima semana vamos debater outros aspectos dos indicadores de gestão de Riscos.